Category: são luís

Hotel Central

Os primeiros registros do Hotel Central em São Luís, datam de 1908, em fotografia de Gaudêncio Cunha, no livro “Maranhão 1908”, um álbum com mais de 160 imagens, que retratam São Luís e algumas cidades do interior do Estado, que foi encomendado pelo governador Benedito Leite, para a divulgação do Estado na Exposição Nacional de 1908 no Rio de Janeiro. O casarão registrado na fotografia, tinha estilo colonial com três pavimentos, localizado entre as Praças Pedro II e Benedito Leite, no centro da cidade, estava situado em um espaço bastante efervescente, no mesmo local onde hoje fica o Palácio do Comércio, cuja fachada podia-se ler no letreiro o seguinte nome: Hotel Central. Porém, como destaca Mário Meireles, no final da década de 1930, foi baixado um Decreto-Lei de nº 330, de 23 de dezembro de 1930, em que o próprio governador se obrigava a construir o palácio do comércio, e este deveria dispor de instalações para um hotel, que deveria ser constituído como um modelo para a hotelaria maranhense em moldes modernos e não mais com a estrutura colonial. No projeto original também constava a instalação de um museu permanente para exposição de produtos do Estado, que seria entregue a associação comercial. O que evidencia o interesse do poder público em produzir um espaço que pode-se fomentar o comércio no Maranhão, por meio da união de diferentes recursos. A construção do novo palácio do comércio, juntamente com as instalações, do hotel e do museu se iniciaram em 1º de maio de 1941, quando foi lançada a pedra fundamental, que acarretou na demolição do antigo prédio colonial que abrigava o Hotel Central, sendo construído em seu lugar um prédio com contornos “modernos”, que foi inaugurado em 4 de maio de 1943, abrigando na época as novas instalações do Hotel Central e da Associação Comercial do Maranhão. O prédio tinha a finalidade de desenvolver os serviços de hospedagem e hotelaria em São Luís, “de forma a suprir uma carência sentida até mesmo pelo presidente Getúlio Vargas, em 1934, em visita ao estado”, segundo explica o Guia de Arquitetura e Paisagem de São Luís e Alcântara (2008, p. 138). O novo hotel tinha equipamentos e ambientes, como restaurante e salão nobre na cobertura, e primava pelo conforto dos hóspedes, que faziam parte de uma clientela bem diversificada, indo desde autoridades a artistas internacionais. Implantado em um canto de quadra com acesso pela Praça Benedito Leite e compondo a paisagem da Praça Pedro II, o prédio apresenta planta complexa, com três escadarias para circulação vertical, em pontos diferentes do imóvel. (Guia de Arquitetura e Paisagem de São Luís e Alcântara, 2008). Fica evidenciado por intermédio dos relatos orais como o hotel era utilizado, não só por hospedes provenientes de outros lugares, mas também pela elite ludovicense: “Eu frequentava o hotel por que lá tinha um restaurante, lá tinha um salão de festas, onde tinha alguns eventos que o salão era utilizado: cerimônias, aniversários, casamentos. (Gustavo Marques, 2017). “O Hotel central, ficava ali ao lado da Igreja da Sé, então ali era o ponto, o ponto chique da sociedade de São Luís naquela época, ou seja, tinha hospedes ilustres, e a gente pegava a bagagem, colocava no elevador, e o meu serviço era esse, pegar a bagagem e ser o mensageiro, o mensageiro do hotel central. (COARACY, 2015)”. Lá no final dos Anos 1970, ainda era um ponto, assim, da intelectualidade da cidade, eu lembro que meu pai (Vitor Gonçalves, jornalista e cronista maranhense) ia pra lá pra encontrar com outros jornalistas, como Carlos Cunha, entre outros. Existia um restaurante e uma sorveteria que eram referências pra cidade de São Luís. (GONÇALVES, 2017). Uma das principais questões que levou ao fechamento do hotel foi o crescimento vertiginoso do turismo, sobretudo durante a segunda metade da década de 1970, culminando na construção de outros grandes empreendimentos hoteleiros na cidade, circunstâncias que levam o Hotel Central perder espaço para o turismo de lazer, que acaba substituindo o turismo de negócio ao qual o Hotel Central se destinava. “A partir dos meados dos anos 1970 outros hotéis começaram a surgir em São Luís, mas até a década de 1970 a referência de hospedagem em São Luís, era o Hotel Central.” (MARQUES, 2015).

Fonte/Bibliografia

COARACY, José Henrique. Gustavo. Entrevista Concedida a Jock Dean. São Luís, 15 mar. 2015.

GONÇALVES, Jandir. Entrevista Concedida a Paulo Leandro da Costa Moraes. São Luís, 20 ago. 2017.

LOPES, José Antonio Viana. (Org). São Luís Ilha do Maranhão e Alcântara: guia de arquitetura e paisagem. Ed. Bilíngüe. Sevilha: Consejaría de Obras Públicas y Transportes, Dirección de Arquitectura y Vivienda, 2008.MARQUES, Gustavo. Entrevista Concedida a Jock Dean. São Luís, 15 mar. 2015.

MEIRELES, Mário Martins, História do Maranhão. São Paulo: Siciliano, 2001.

REVISTA ELEGANTE, São Luís, 1898.

SILVA FILHO, José de Oliveira da. Tramas do Olhar: a arte de inventar a cidade de São Luís do Maranhão pela lente do fotógrafo Gaudêncio Cunha. Fortaleza. 2009. Disponível em: www.oestadodoma.com.br, Publicado em: 16 de março de 2015.

Pesquisador responsável: Paulo Moraes

Escola Sociedade Onze de Agosto

Tendo sido criada por meio de iniciativa privada a partir dos 1840, a Escola Sociedade 11 de Agosto, surge em oposição à educação elitista que era administrada no Liceu Maranhense. Voltada para o ensino da leitura, da escrita e da contagem, buscava atender a população mais pobre da cidade e proveniente do setor operário, buscando ainda oferecer cursos profissionalizantes. Estabeleceu-se como importante instituição de atenção à comunidade de baixa renda. Porém teve atuação bastante efêmera, pois sofreu com intervenções do setor público que por fim, em 1884, decide instalar no prédio em que funcionava a escola a Assembleia Legislativa do Estado do Maranhão, interrompendo o empreendimento de uma Escola popular no Estado. Com as novas perspectivas da província do Maranhão em torno da organização e expansão das práticas educativas iniciada em 1827 e a ampliação desse empreendimento na década de 30 e 40 pelo governo provincial, com a fundação do Liceu Maranhense (1837), que atendia, sobretudo, as classes mais abastadas do estado. Mas em contraposição a essa educação elitista, vão se formando instituições voltadas ao ensino do ler, escrever e contar, a parcelas mais pobres da sociedade, visando à profissionalização do operariado. Nesse contexto é criada a escola Sociedade Onze de Agosto, que tinha por interesse oferecer cursos a todos que compunham a classe operária, que buscavam instrução nas primeiras letras e em conhecimentos voltados a indústria, o comércio e a lavoura, tendo como diferencial, o ensino noturno, que visava atender aquele nicho em especial. Essa escola foi formada a partir da iniciativa de alguns intelectuais maranhenses, entre eles: Antônio de Almeida Oliveira, que era defensor da educação republicana e popular; e João Antônio Coqueiro, que fora professor na instituição. Sendo instalada em prédio localizado na Rua do Egito que tendo passado por reformas e adaptações, “[…] ficou construído um novo edifício que não deixou a desejar, reabrindo-se as aulas dos diferentes cursos já iniciados, sendo aprovados outros. O ensino era feito sem remuneração para a classe laboriosa ocupada em outros misters” (REVISTA ELEGANTE, 1898, p. 2).Tendo sido fundada por empreendimentos particulares, a escola foi gradativamente recebendo apoio do poder público para a compra e reforma do prédio, bem como na aquisição de materiais escolares, organização e adaptação de mobiliários. Porém, por acreditar, o poder provincial ter direitos de interferir nas atividades escolares, e, sobretudo na ocupação do prédio onde fora instalada a escola popular, decide ocupá-lo com a biblioteca pública provincial. Com o tempo passa a se chamar biblioteca popular, que aliada às constantes tentativas de utilizar as dependências do prédio para a instalação do Liceu em 1876, acaba entrando em embate com a diretoria da sociedade. As constantes inferências do Poder público à escola Sociedade Onze de Agosto acabaram interferindo no funcionamento da instituição, fazendo com que Jose Manoel de Freitas, então Presidente da província, mandasse que fossem indenizados os credores da sociedade 11 de Agosto, passando o prédio o poder provincial, por meio do art. 11 da Lei n. 1155 de 5 de setembro de 1876. Com isso o prédio passou a abrigar a Sociedade Maranhense Protetora dos alunos pobres em 1877, sendo montada a biblioteca pública e restabelecida a aula noturna, “tendo início desde 1º de agosto de 1882, com uma frequência média de cem alunos, constante de operários das fundições, aprendizes de alfaiate, marceneiro, sapateiro” (REVISTA ELEGANTE, 1898, p. 3). Porém em 1884, por determinação dos deputados e presidente da província a assembleia legislativa do Estado passa a ocupar aquele prédio, alegando a falta de acomodações adequadas em outros estabelecimentos, o que acaba desestabilizado definitivamente as atividades da Sociedade Onze de Agosto e o funcionamento da Biblioteca pública.  Acabou-se assim a existência tão útil da Sociedade 11 de Agosto. Todavia, as energias ali dispensadas, semelhante ao que se passa nos domínios da mecânica, não se consumirem, senão se transformaram, não somente construindo cidadãos instruídos que abraçaram várias profissões em que denotaram a cultura de nossa terra, mas ainda legando este edifício que, perpetuando a memória dessa Sociedade, forma um patrimônio do ensino, nesta Capital, vastamente conhecida por Escola Noturna, Escola do Povo, Escola Popular 11 de Agosto (FERREIRA, 1933, p.24).

Fonte/Bibliografia

CASTELLANOS, Samuel Luis V. Práticas leitoras no Maranhão na Primeira República: entre apropriações e representações. São Luis: EDUFMA, 2010.

CASTELLANOS, Samuel Luis Velázquez; CASTRO, Cesar Augusto. Uma instituição de ensino popular no Maranhão Império: A Sociedade Onze de Agosto. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, nº 62, p.83-97, mai2015 – ISSN: 1676-2584.

FERREIRA, Justo Jansen. A Escola 11 de agosto. São Luis: IHGE/MA, 1933

MEIRELES, Mário Martins, História do Maranhão. São Paulo: Siciliano, 2001.

REVISTA ELEGANTE, São Luis, 1898.

SILVA FILHO, José de Oliveira da. Tramas do Olhar: a arte de inventar a cidade de São Luís do Maranhão pela lente do fotógrafo Gaudêncio Cunha. Fortaleza. 2009.

Disponível em: www.oestadodoma.com.br, Publicado em 16 de março de 2015.

 

Pesquisador responsável: Paulo Moraes

Fotografia imagem: Jornal O novo Mundo, New York, v.5, n. 53, 22, fev. 1985.

Terreiro do Egito

Construído no século XIX, o Terreiro do Egito é uma das mais antigas casas de culto afro de São Luís, sendo referência litúrgico religiosa e de ancestralidade para pais e mães de santo que nasceram no chão daquele axé. As festas eram realizadas no fim do ano, para comemorar a chegada do navio encantado de Dom João. Acredita-se ainda que antes da abolição, a localidade era um quilombo e que ficava numa ponta de terra por trás do local onde foi construído o Porto do Itaqui, também chamado de Ponta do Quilombo do Egito. O terreiro foi extinto em 1970 devido ao falecimento da última mãe de santo, Mãe Pia, e hoje embora não tenha edificação é reconhecido como sagrado e frequentado por adeptos da religião. “O Egito está extinto como casa material, mas como casa espiritual continua vivo, enquanto tivermos um filho dessa Casa com o culto em expansão” (OLIVEIRA, 1989, p.34). Há controvérsias sobre a existência dessa casa, tendo em vista que não há edificação devido sua frágil construção, era “coberto e tapado de pindova, […] com os participantes alojados em abrigos de palha, construídos no local ano a ano.” (Ferreira, 1997, p.51) também não há referência documental que ateste seu funcionamento, contudo o escritor maranhense Dunshee de Abranches no livro “O Cativeiro” afirma que no século XIX havia quilombos nessa região conhecida como cajueiro, informação que dialoga com as falas dos defensores de sua existência. Atualmente a comunidade vem passando por problemas de reconhecimento e corre risco de ser desapropriada para a construção de um porto, diante dessa delicada situação, desde 2015 o espaço passa por intervenções do grupo de pesquisa GPMINA (Núcleo de Religião e Cultura Popular) e pelo GEDMMA (Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente) ambos vinculados à UFMA (Universidade Federal do Maranhão). O terreiro do Egito funcionou até o falecimento de Mãe Pia, sua última chefe. Pai Euclides da Casa Fanti-Ashanti, em seus escritos de memória e em entrevistas registradas em pesquisas alegou que essa Casa de culto era chamada de Ilê Nyame e que foi fundada em meados de 1860-70 por Basília Sofia, uma negra, cujo nome privado era Massinocô Alapong, vinda de Cumassi, Costa do Ouro, atual Gana. Ela teria chegado à São Luís em 1864 e falecido em 1911, “antes de abrir o seu terreiro, Basília Sofia (Massinokou) fora escrava e teria estado na Bahia. Após conquistar a liberdade veio para São Luís, onde teria inicialmente residido e dançado, por algum tempo no terreiro de Pai Cesar (já desaparecido)” (FERREIRA, 1997, p. 97). A partir de 1912, o Terreiro passou a ser chefiado por outra negra, chamada Maria Pia, que o liderou por cinquenta e cinco anos. Pai Jorge, do YlêAshéYemowa- Abê ou ‘Casa de Iemanjá’, narra que o Terreiro do Egito era Jeje-Nagô e Cambinda sendo responsável pelo surgimento de várias linhas de encantados no Tambor de Mina (Família de Marinheiros, Botos, Sereias, Bandeira, Gama, entre outras). Diz também que esse terreiro foi assentado por velhas africanas com os voduns: Lissá, Vó Missã, Navezuarina, Xapanã, Ewá e Toy Averequete, se configurando assim como memória viva de muitos outros que surgiram depois. O espaço onde ficava o terreiro é reconhecido como sagrado por adeptos da umbanda, candomblé, mina e terecô e permanece sob a sombra de pés de caju, na comunidade do Cajueiro que hoje luta contra a instalação de um porto privado pelas empresas WPR e WTorres. O Cajueiro é uma comunidade rural próximo à Vila Maranhão, onde residem tradicionalmente pescadores e agricultores que estão lá desde o tempo de seus ancestrais, diante disso os moradores almejam o seu Registro como território tradicional de descendentes de quilombolas e pais e filhos de santo do tambor de mina do Maranhão pleiteiam a transformação do território em espaço sagrado das tradições religiosas afro-maranhenses. Alguns moradores afirmam, assim como Pai Euclides e Pai Jorge, que inúmeros praticantes do Tambor de Mina da ilha de São Luís e de outras regiões frequentavam o Terreiro do Egito, um lugar onde poderiam realizar seus cultos em paz, uma vez que este ficava afastado da cidade, para onde se deslocavam principalmente de embarcações, dada a dificuldade de acesso por terra naquela época. A festa ocorria na virada de 12 para 13 de dezembro, quando os (as) encantados (as) apareciam e avisavam que o navio iria chegar, e ao som dos tambores e cânticos, avistava-se o Navio de D. João. Os registros apontam que Pai Euclides é da primeira geração dos descendentes do Terreiro do Egito e ficou responsável pela Casa Fanti-Ashanti até 2015 quando faleceu. Há, entretanto, outros da primeira geração que por sua vez foram constituindo seus próprios terreiros e criando novas gerações de mães e pais de santo.  Para citar alguns pais e mães de santo da primeira geração do Terreiro do Egito, temos Mãe Margarida Mota (Lira), Pai Jorge Itacy de Oliveira (Fé em Deus), Pai Manuel Curador (Pão de Açúcar), Pai Zacarias (Maioba), Memê (de Guimarães), Rafina (do Cajueiro), todos (as) já falecidos (as), mas que seus descendentes continuam a manter viva a religião e a memória destes. A luta em defesa pela preservação e reconhecimento como lugar sagrado do Terreiro do Egito é uma batalha que vem sendo travada há décadas, pelo povo de santo e pela comunidade, que defendem a ideia de que não querem sair do lugar onde nasceram, cresceram e se tornaram comunidade: são pescadores e pescadoras, lavradores e lavradoras, extrativistas, são povos tradicionais, remanescentes de quilombos. Atualmente a maioria dos moradores do Cajueiro pertence a diversas igrejas de vertentes neopentecostais, contudo, estão juntos para lutar pela preservação, como assegura Sergio Ferretti “alguns afirmam que frequentavam o Terreiro do Egito, que viram o navio encantado, que dançavam ou tocavam. Outros que iam para tocar e beber.” (FERRETTI. S, 2016, p.03)

Fonte/Bibliografia

ARTHUR, Márcio. O navio encantado de Dom João. Blog Encantaria do Maranhão. http://discmarcioarthurhotmailcom. blogspot.com.br 12/12/2012. Acesso em 25/04/2017.

FERREIRA, Euclides (Talabyan). Tambor de Mina em conserva. São Luís: Casa Fanti-Ashanti, 1997.

________. Itan de dois terreiros nagô. São Luís: Casa Fanti-Ashanti, 2008.

FERRETTI, Mundicarmo. Entrevista com Zé Lutrido. Guimarães, 12/11/1994.

________. Entrevista com Pai Euclides. São Luís: EDUFMA, GEDMMA/UFMA –– 10/10/2014

Relatório Sócio antropológico – RESEX de Tauá-Mirim. São Luís, 2014.

________. O terreiro do Egito e o navio encantado de Dom João In:

Boletim da Comissão Maranhense de Folclore. Número 59, p. 09-14, dezembro de 2015.

FERRETTI, Sergio. O Egito na memória da comunidade do cajueiro In:                   Boletim da Comissão Maranhense de Folclore. Número 60, p. 03-09, junho de 2016.

OLIVEIRA, Jorge Itaci de. Orixás e voduns em terreiros de Mina. São Luís: Ed. VCR Produções e Publicidades, 1989.

 

Pesquisador responsável: Reinilda Oliveira

Fotografia imagem: Acervo: Museu afrodigital do Maranhão

Terreiro de São Benedito/Terreiro do Justino

Fundado em 10 de agosto de 1896, por Maria Cristina Baima, da afamada Casa de Nagô, o Terreiro de São Benedito ou terreiro do Justino é um dos mais antigos de São Luís que ainda continua em funcionamento e realiza diversas festas ao ano. Embora o nome faça referência ao Justino, esposo de uma das mães de santo, a casa sempre esteve chefiada por mulheres. Como tradição de matriz africana, esse terreiro resiste, inventando e re-inventando sua tradição para manter-se. Atualmente está sob o comando de Raimunda Venância Souza Viegas (Dona Mundica) e além da Mina, são também realizados trabalhos de Cura/pajelança e sessões astrais (espíritas). Tem como entidades espirituais principais Averequete, Maria Bárbara Soeira e Iemanjá e é comandada pela entidade cabocla denominada Salineiro, da família de Rei do Junco.Fundado ainda no Século XIX, o Terreiro de São Benedito ou terreiro do Justino é um dos mais antigos de São Luís que ainda continua em funcionamento e realiza diversas festas ao ano. A casa vem buscando reconhecimento enquanto patrimônio imaterial há alguns anos, como forma de preservar sua memória. Em depoimento cedido à pesquisadora Marilande Abreu, que desenvolve pesquisa na casa, Dona Mundica, atual chefe, destaca: “queria muito que o terreiro fosse tombado como a Casa das Minas e Casa de Nagô, só nós três tamo de pé até agora, desse tempo mais antigo”. Segundo relatos orais esse terreiro foi fundado em 10 de agosto de 1896, por Maria Cristina Baima, da Casa de Nagô. Funciona no bairro da Vila Embratel, atrás da Universidade Federal, e está localizado em um terreno que outrora era um grande sítio; contudo sofreu inúmeras invasões. Atualmente está sob o comando de Raimunda Venância Souza Viegas (Dona Mundica), que reside na casa e a chefia desde que morreu a terceira chefe, dona Antônia, que a iniciou. Dona Mundica recebe entre outros o vodun Pai Averequete e o caboclo Seu Salineiro. Além da Mina, na casa são também realizados trabalhos de Cura/pajelança e sessões astrais (espíritas) e tem como entidades espirituais principais Averequete, Maria Bárbara Soeira e Iemanjá e é comandada pela entidade cabocla denominada Salineiro, da família de Rei do Junco. Realiza várias festas ao ano como a tradicional queima de palhinhas do presépio, Bancada das Tobossis (entidades femininas – senhoras), Aleluia, Festa do Divino, São João, São Pedro, Santana, São Benedito, Cosme e Damião, São Francisco, Santa Bárbara, Nossa Senhora da Conceição, Santa Luzia, Dia de Todos os Santos. Abreu assegura que “a busca de um terreiro pelo reconhecimento como patrimônio imaterial é legítima e necessária para que outras vozes possam ser ouvidas na pluralidade de práticas culturais que constituem a identidade nacional.” (ABREU, 2015, p.13) Assim, se a ideia de patrimônio está atrelada a uma comprovação histórica de um grupo que deixou sua memória, a referida casa de culto, sendo uma das mais antigas, juntamente com a Casa das Minas (Tombada pelo IPHAN) e a Casa de Nagô, (tombada pelo Estado/SPC) merece ser pensada como tal, assim como o extinto Terreiro do Egito. Além do mais a atual chefe, não preparou sucessora, o que pode culminar no desaparecimento do culto. Inclusive, “trabalhos etnográficos indicam a importância histórica e antropológica do Terreiro do Justino, […]. O terreiro apresenta aspectos materiais e imateriais importantes para a cidade de São Luís e para a história dos afrodescendentes.” (ABREU, 2015, p.06). Ainda de acordo com Abreu, na década de 1970, a Universidade Federal do Maranhão, já instalada no centro da capital, recebeu através de doação da arquidiocese de São Luís\MA, um terreno para fundar o campus e ampliar o número de cursos. Nessa área residiam inúmeras famílias que foram desabrigadas e deslocadas para a instalação da universidade no lugar onde atualmente localiza-se a cidade universitária. […] Na década de 1970, os políticos e a direção da UFMA garantiram que dariam novas casas para os desalojados, mas como não o fizeram, um número de famílias migrou para a área do terreiro e construíram suas moradias.  Em consequência dessa ocupação, outras vieram, e atualmente o terreno dessa casa de culto se reduz a uma pequena área verde, em meio a barrancos, escuridão e medo, devido à violência que se instalou nessa área periférica da capital.

Fonte/Bibliografia:

ABREU, Marilande Martins. A ressignificação da tradição de um terreiro de mina em São Luís\MA: O terreiro de São Bendito\Justino e a luta pelo reconhecimento como patrimônio imaterial.

FERRETI, Sergio. Repensando o Sincretismo. São Paulo: Editora USP / São Luís: FAPEMA, 1995.

NUNES, H. R. Perseguição religiosa: a pajelança na imprensa codoense entre os anos de 1894-1896. Boletim da Comissão Maranhense de Folclore, São Luís, n. 34, p. 9-12, jun. de 2006.

Pesquisador responsável: Reinilda Oliveira

Fotografia/ imagem:

Acervo: Museu afrodigital do Maranhão

Cais da Sagração

Construído em 1841 em homenagem a sagração de D. Pedro II, o Cais da Sagração já foi um dos portos mais importantes do mundo. Isso se deu pelo volume do comércio presente no Estado do Maranhão a partir do século XVIII, pelo movimento geral do capitalismo industrial no mundo e o livre comércio. Porém com a construção de outras formas de transportes, entre elas a Estrada de Ferro São Luís – Caxias e a diminuição da movimentação do cais, este se vê fadado ao abandono e em fins da década de 1970 parte dele foi aterrado para a construção da Av. Vitorino Freire. O Cais da Sagração, hoje chamado erroneamente de “Rampa Campos Melo”, tem importância histórica na cidade de São Luís e já foi um dos portos mais importantes do mundo. De acordo com o conselheiro do IPHAN Luis Phellipe Andrés, “havia duas rampas, a Campos Melo, que desapareceu e a Rampa do Palácio, antigo Cais, que se encontrava entre os dois baluartes, em frente ao Palácio dos Leões”. O Cais da Sagração foi feito como homenagem a sagração de Dom Pedro II, suas obras foram iniciadas em 1841, passou muitos anos em funcionamento e seus vestígios desapareceram.

Na perspectiva do pesquisador Jandir Gonçalves da Silva, na década de 1970, parte dele foi aterrado para a construção da Av. Vitorino Freire. Vale destacar que esse Cais era a única saída de São Luís até a criação da Estrada de Ferro São Luís – Caxias. “A maior parte das estações no Maranhão entraram em atividade no ano de 1919, mas consta que desde 1915 já havia a circulação de trens na linha. […] Entre 1921 e 1930, completou-se toda a ferrovia, com a abertura de várias estações e postos coletores nas principais povoações por ela atravessadas” (NEVES, 2012 p.06) Quase todas as fábricas têxteis maranhenses já estavam em pleno funcionamento, e se viram ante o grave problema da precariedade do transporte de mercadorias, o que demonstrava estar completamente obsoleto, para a realidade local daquele período, o transporte de bens conjugando-se as vias terrestres e fluviais. Mesmo assim, essa questão não foi resolvida pelo menos até o início da década de 1920. (NEVES, 2012 p.05)

As mudanças urbanas iniciadas na segunda metade do século XVIII, foram visíveis, nesse último período e depois dele, devido ao movimento geral do capitalismo industrial no mundo e o livre comércio, a cidade de São Luís também passou por mudanças no seu cenário físico urbano. “De todas as reformas pelas quais a cidade passou, a construção do Cais da Sagração foi uma das mais significativas, pois seus resultados foram sentidos na economia por muito tempo.” (NEVES, 2012 p.05) O impacto da construção do Cais sobre a cidade foi forte a ponto de Josué Montello escrever um livro intitulado “Cais da Sagração”, evidenciando o cenário da construção dele e através do qual se desenrola a história do pescador Mestre Severino, de sua amada Vanju e da submissa Lourença, personagens do mar, o qual, mais do que um plano de fundo, manifesta vida. Montello destaca a movimentação do cais, e ao final do livro aponta certo receio pelo seu declínio.

Fonte/Bibliografia                                                               

GERMANO, Nivaldo. RIBEIRO, Elias. FONTENELE Ludmylla, et al. CAIS DA SAGRAÇÃO: O Processo de Modernização da Cidade de São Luís no século XIX. Apresentado no II simpósio de História do maranhão oitocentista. UEMA, 2011.

MONTELLO, Josué. Cais da Sagração. 5.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.

MORAES, Jomar. São Luís do Maranhão – memorabilia de antigos e raros cartões postais. Rio de Janeiro: Y.R. Marketing e Projetos Culturais Ltda., 1993.

NEVES, Diogo Gualhardo. Ferrovia São Luís-Teresina: história e cultura. In: VI Colóquio Latino Americano sobre recuperação e preservação do patrimônio industrial. v. 1, São Paulo. Caderno de resumos. São Paulo: Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, 2012.

O Cais da Sagração. TV imparcial. Publicado em 7 de out de 2016.

SILVA, Jandir Gonçalves. Entrevista concedida a Reinilda Santos, 2017.

 

 

Pesquisador responsável: Reinilda Oliveira

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Supermercados Lusitana

Município Atual: São Luís – MA

O Grupo Lusitana no Maranhão ganhou visibilidade e fama através do empresário Manoel Alves Ferreira, natural de Oliveira de Azeméis (distrito do Porto), em Portugal, sendo o precursor do modelo de supermercado no comércio maranhense. Essa rede de supermercado surgiu em fins da década de 1950 quando seu Manoel adaptou a Mercearia Lusitana (na Rua Grande), do sogro, Domingos da Silva Borges, num autoatendimento, após conhecer uma loja do gênero nos Estados Unidos. Com o tempo essa rede se tornou uma das maiores redes supermercadistas do Nordeste, com a instalação de 25 lojas, somente na capital. No começo a empresa adotou práticas inovadoras como a entrega em domicílio dos pedidos feitos por telefone ou no balcão. A ideia pioneira de Manoel Ferreira vingou, levando a empresa a ampliar a sua clientela e a se destacar na economia maranhense. Por muitos anos aqui em São Luís não existia outro supermercado de grande porte para “bater de frente”. Dentre os mais importantes ganhou destaque os situados na rua de Santana, Cajazeiras, Cohatrac, Deodoro, Alemanha, Av. africanos, Cohama, Cohab, Av. Kenedy. A logomarca do supermercado, de acordo com uma propaganda encontrada no Youtube era: “supermercado Lusitana onde é gostoso comprar”.

Essa rede de supermercado deixou de existir em 2002 ao vender as melhores lojas – São Francisco, rua de Santana, avenida Kennedy, Mercado do Produtor (Deodoro), Alemanha, Olho d´Água, Cohama e Cohab-Anil – para a rede Bompreço, à época pertencente ao grupo pernambucano Paes Mendonça e que hoje é uma das bandeiras do Grupo Wal-Mart. A Lusitana além de ser uma grande rede local, acabou virando sinônimo de supermercado, pois muitas pessoas pegaram o habito de falar “Vamos fazer Lusitana”. A empresa construiu um sólido patrimônio composto por 25 lojas. No ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) ficou por vários anos entre as sete maiores da região e era apontada como a 15ª em faturamento no país. Também ocupou rankings importantes da Revista Exame e do Jornal Gazeta Mercantil, que a apontava entre as 500 maiores empresas brasileiras.

As características empreendedoras de Manoel Ferreira o levaram a fundar a Associação Maranhense de Supermercados (Amasp), entidade de grande importância, tendo sido o seu primeiro presidente. Também no campo da política empresarial, foi presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de São Luís (CDL). O reconhecimento ao seu trabalho veio em forma de homenagem pela Associação Comercial do Maranhão (ACM) que lhe concedeu o primeiro diploma de Empresário do Ano, instituído pela entidade em 1987. O sonho de Manoel Ferreira era fazer da Lusitana uma marca no coração dos maranhenses e conseguiu. O último a fechar foi o Center Lusitana Material de Construções que deixou de funcionar em outubro de 2011, encerrando um ciclo de quase 80 anos de atuação do grupo no segmento de varejo. Seu Firmino de Oliveira Sousa, morador do Centro da cidade revela: “quem nunca comprou Creme dental Kolynos, Saco Balas Soft, Chocolate Lolo, Chocolate Supresa, Jeneve, Grapete, chicletes Ping Pong ou comeu o pastel foleado que vendia na lanchonete.” Já dona Marcelina Pereira da Silva, moradora do Cohatrac diz que tem 70 anos de idade e desde que chegou em São Luís para morar, ainda adolescente, comprava na Lusitana e que não consegue evitar, “quando vou fazer compras em qualquer supermercado digo que vou na lusitana. É minha referência até hoje, tamanha era sua grandiosidade.” Sua filha Elba Pereira Chaves assegura que “toda crianças gostava de fazer lusitana com seus pais lá, isso era um programão pra todos. Eu ia com minha mãe, meus tios e primas, era um momento em que a família se reunia.”

 

Fonte/Bibliografia

Comercial Supermercados Lusitana (1976). Comercial antigo da rede de supermercados ludovicense (de São Luís) Lusitana. Publicado em 26 de novembro de 2015.

 

Fotos e Imagens Antigas de São Luís do Maranhão. Disponíveis em: http://kamaleao.com/saoluis/3097/fotos-e-imagens-antigas-de-sao-luis-do-maranhao. Acessado em 20 de janeiro de 2017.

 

Morre Manoel Alves Ferreira, fundador do Grupo Lusitana. Jornal pequeno. Publicado em:12/08/2009. Disponível em:  https://edicao.jornalpequeno.com.br/impresso/2009/08/12/morre-manoel-alves-ferreira-fundador-do-grupo-lusitana/

 

SILVA, Elba Pereira Chaves.  2017. Entrevista concedidas a Reinilda Santos.

 

SILVA, Marcelina Pereira da.  2017. Entrevista concedidas a Reinilda Santos.

 

SOUSA, Firmino de Oliveira. 2017. Entrevista concedidas a Reinilda Santos.

Pesquisador responsável: Reinilda Oliveira

Cine Edén – Atual loja Marisa

 

Município Atual: São Luís – MA

Na primeira metade do século XX, quando São Luís ganhava ares modernos, saindo de uma economia agrário-exportadora para urbano-industrial, surgiram alguns cines-teatros na capital distribuídos pelos bairros periféricos e instalados, em sua maioria, próximos às fábricas e às vilas operárias da cidade. Como destaca uma reportagem do programa Repórter Brasil (2015) “de acordo com alguns historiadores o surgimento dos primeiros cinemas na capital maranhense se deu com a criação de bairros operários e a expansão da classe média”. Esse passado áureo dos cinemas mantém íntima relação com a instalação das fábricas na ilha, tais como; a Companhia Industrial Carioca no bairro Areal (atual Monte Castelo), a Companhia de Fiação e Tecidos do Rio Anil na vila do Anil, onde hoje funciona o Centro Integrado Rio Anil (Cintra) e ainda o complexo industrial do Centro / São Pantaleão / Fabril / Camboa, cuja mão de obra era advinda do Lira, Belira, Codozinho e Madre Deus. Nesses bairros surgiram os primeiros cinemas, como cine Passeio, Edén, Roxy, Rival, Rivoli, Rex, cine Anil e Monte Castelo. Sendo monopolizados por duas famílias de origem libanesas, Dualibe e Tájra.

O começo do século XX era a época clássica do cinema ludovicense, a construção do ideal da Belle époque europeia invadia São Luís, e com ele a construção de um modo de vida, que buscava se apropriar da cultura europeia. Neste contexto surge o cine Edén, que pertencia ao empresário libanês, Moyses Aziz Tájra e teve sua inauguração em 1919, ele foi projetado inicialmente para ser um teatro, possuindo dois pavimentos com dois salões, um inferior e outro superior, para o encontro da alta sociedade. A capacidade era de 1.200 a 1.300 lugares. Esse cinema era de elite e geralmente exibia filmes que eram lançamentos. De acordo com o pesquisador, Deusdédit Carneiro, “o cinema era aberto para festas carnavalescas, bailes de mascaras, e esse era o momento em que a população podia participar, já que lá era um cinema para as elites no geral.” Sotero Vital, morador do centro há anos destaca que viu muitos filmes ali e lamenta seu fechamento súbito. “Eu frequentei muito aquele cinema, como morava no centro era fácil de ir, me lembro que assisti aquele filme clássico com John Travolta, Nos tempos da brilhantina, tinha os bailes também, mas eu não ia para esses, isso lá nos anos 80”. A decadência desse projeto veio com a modernização dos meios de comunicação. Segundo Rosa Santos, o cinema foi sendo substituído gradativamente pelos programas de rádios. O pesquisador Carlos Lima, em entrevista para o curta metragem “Marisa vai ao cinema”, fala do fechamento do cinema. “Não tive conhecimento de nenhum protesto contra o fechamento do Éden, não houve, assim um movimento nem dos artistas conterrâneos e nem dos cinéfilos maranhenses, apenas se lamentavam que tivessem fechado o Éden.”  O espaço ficou um tempo fechado e atualmente funciona a Loja Marisa.

Referências/ fontes

AZEVEDO. Sotero Vital Nunes de. 2017. Entrevista concedidas a Reinilda Santos.

LEITE, Deusdédit Carneiro. 2017. Entrevista concedidas a Reinilda Santos.

MARISA VAI AO CINEMA – Murilo Santos e Ione Coelho.  Ficção. 15’00” . MA . 1995 . Livre

MOREIRA NETO, Euclides Barbosa. Primórdios do cinema em São Luís. São Luís: Cineclube Uirá,. 1977.

SANTOS, Roza. 2017. Entrevista concedidas a Reinilda Santos.

Pesquisador Responsável: Reinilda Oliveira

Terreiro de Zé Negreiros

Município Atual: São Luís – MA

O terreiro grande de Zé Negreiros alcunhado de Terreiro de Legua Bogi Búa da trindade, em homenagem ao seu santo de cabeça, foi aberto em 1945 no bairro do Turú, atual Posto Natureza, na época zona rural de São Luís. A casa seguia o Tambor de Mina, na linha Nagô, modelo adotado pela grande maioria das casas de Tambor de Mina, com cultos simultâneos a orixás, voduns e outras entidades, nobres, fidalgos e caboclos. Essa casa permanece viva na memória de muitas pessoas com mais de 60 anos, que frequentavam ou conheciam sua fama, que hora ou outra aparecia nos jornais na resolução de casos ou envolvendo políticos famosos. De acordo com as fotos encontradas nos jornais ficou perceptíveis detalhes da estrutura do barracão, mostrando parte da fachada, o que permite ver que era uma construção simples, feita de pau a pique. Esta foi a primeira estrutura, segundo depoimento do filho Itabajara Coelho, e teria pegado fogo pouco tempo depois de erguida. Com isso, houve a necessidade de uma construção mais resistente, feita em formato de campo de futebol. Contudo, a casa de segredo, onde os filhos de santo eram preparados, se manteve com as mesmas características de construção, era feita de palha.

Embora esse pai de santo tenha construído outras casas no centro da cidade, essa foi a de maior representatividade no âmbito social. No começo era isolado do centro e o único meio de transporte que lhe dava acesso era o carro de boi. Com isso, segundo relatos orais, por ser frequentado por pessoas da alta sociedade, incluindo políticos, foi necessário abrir o caminho para a passagem de automóveis, o que originou a Avenida São Luís Rei de França, atualmente, uma das principais da capital maranhense. Coelho (2017) argumenta “Negreiros era amigo de poderosos, José Sarney era próximo de papai, ele que mandou abrir a estrada do Turu para poder ir ao terreiro.” O Terreiro de Zé Negreiros/ Legua Boji Búa da Trinade, promovia além das festas dos santos, apresentações de grupos folclóricos como bumbas, reisados, Divino Espírito Santo, Tambor de Crioula e frequentemente fazia sorteios de prêmios, entrega de presente para as crianças, dentre outras atrações, além das festas com muita comida, atraindo com isso pessoas das imediações e de outros bairros. Essa Casa buscava mecanismos de inserir a comunidade nas festividades. Uma das formas utilizadas por esse Pai de santo foi através das “Vozes”, programa de rádio que era instalado em alguns bairros de São Luís. Ele possuía a voz intitulada “Bom Jesus dos Navegantes”. Através desta, interagia com o público ouvinte e como forma de incentivar a participação fazia sorteios de muitas coisas como ingressos para os jogos de futebol, cestas, dentre outros prêmios. Alguns desses eram doados pela própria rádio, enquanto outros eram comprados por ele mesmo.

Coelho (2017) aponta que, “até o time do Vasco da Gama, quando veio jogar na cidade, foi no terreiro de Negreiros, para conhecê-lo, já que na época diziam que quem não o conhecesse não conhecia São Luís”. Na verdade, ele tinha uma relação de paixão com futebol, seu terreiro do Turu era um exemplo disso, como já mencionado, possuía formato de campo de futebol, com espaço no centro para as apresentações e as arquibancadas para os convidados. Além do respeito dos times locais, Coelho (2017) destaca que “as camisas dos jogadores do Moto dormiam no terreiro com meu pai, dois dias antes das grandes partidas, além dele benzer os jogadores.” Tamanha era a crença no poder do mesmo. Essa casa foi responsável pela preparação de muitos filhos de santo que, posteriormente, constituíram seus terreiros, principalmente em Belém. Além do mais, era muito conhecido em outros lugares, o pai de santo Negreiros chegou a viajar para Guiana Francesa e Espanha, para trabalhos. “O sistema todo frequentava a casa, para a festa acontecer tinha que ter licença, mas papai era amigo dos delegados, cansei de ir buscar licença na casa deles.” (COELHO, 2017)

Fonte/Bibliografia

COELHO, José Itabajara. 2017. Entrevista concedidas a Reinilda Santos.

SANTOS, Reinilda de Oliveira. José Negreiros: “pulava e brincava, rufava o pandeiro”. In: Boletim da Comissão Maranhense de Folclore. Número 56, junho de 2014, p. 14-15.

SILVA, Vagner Gonçalves da (org.). Caminhos da Alma. Memória afro-brasileira. São Paulo: Summus, 2002.

Pesquisador responsável: Reinilda Oliveira

Fotografia/ imagem:  Acervo: Museu afrodigital do Maranhão

Memorável Estádio Santa Izabel

Moto clube treinando no Estádio Santa Isabel

 

Em 1939, o extinto Estádio Santa Izabel foi inaugurado para homenagear a fábrica do industrial César Aboud. Esse foi o primeiro estádio de futebol do Maranhão, nasceu ao mesmo tempo da chegada do futebol ao estado do Maranhão. Levou esse nome de Santa Izabel, porque assim era conhecida a Fábrica Têxtil Maranhense. Por muito tempo, esse estádio ficou conhecido como o Campo do Moto, devido à torcida rubro-negra, isto é, do Moto Club, ficar instalada nas arquibancadas de concretos sempre que o time jogava neste local, ao mesmo tempo que as torcidas dos outros times permaneciam amontoadas nos barracos do lado oposto (RAPOSO, 2015).

O Estádio Santa Izabel esteve sob a responsabilidade do industrial Joaquim Moreira dos Santos, conhecido como Nhozinho Santos, que deu nome ao segundo estádio de São Luís, localizado na Vila Passos. De acordo com Hugo Saraiva (2013), no período dessa chegada do futebol ao Maranhão, reuniram-se na casa da família Santos, na rua Grande, o líder Nhozinho Santos, seus irmãos, ingleses, alguns amigos e convidados para tratar da implantação do “foot ball association” no Maranhão. Nesta reunião, estabeleceram que na vasta área da fábrica de têxteis Santa Izabel se construiria um campo destinado ao futebol, surgindo assim o Fabril Athletic Club – FAC. Neste local, situado na área central da cidade, algumas árvores foram derrubadas para que tivesse espaço necessário para o exercício desse esporte.

Desse modo, surgiu o Estádio Santa Izabel, no qual recebeu grandes clubes, como Flamengo, Vasco da Gama, Santos, Olaria, Bangu e muitos outros. Vale dizer que nesse estádio ocorreram diversas reformas importantes, como a construção de arquibancadas de concreto. “Curioso ressaltar que era ali que a torcida do Moto Club, na época já sob os cuidados do industrial César Aboud, se acomodava. As outras equipes contentavam em alojar a sua torcida na famosa barreira, pedaço de terra e sem nenhum conforto ao lado oposto à confortável arquibancada “motense”” (SARAIVA, 2013:01). Ao longo do tempo, o Santa Izabel foi perdendo espaço, chegou a ser fechado por algum tempo e foi utilizado como campo de treino para os times da capital. O estádio Santa Izabel foi importante para a História do Futebol Maranhense, pois fez parte da vida da sociedade maranhense, na qual destacamos os seus dirigentes, torcedores, e desportistas em geral. No final da década de 70, o Santa Izabel foi demolido e em seu lugar forma construídos os prédios do Ministério da Fazenda em São Luís, CE João Francisco Lisboa (Antigo CEGEL) e a Igreja Universal (SARAIVA, 2014).

 

Fontes/Bibliografia:

 

RAPOSO, George. São Luís, uma cidade apaixonada por futebol. O Imparcial. São Luís, p. 01-11. 08 set. 2015. Disponível em: <https://oimparcial.com.br/noticias/2015/09/sao-luis-uma-cidade-apaixonada-por-futebol/>. Acesso em: 03 set. 2017.

SARAIVA, Hugo. Fechamento do Estádio Santa Izabel. 2014. Disponível em: <http://futebolmaranhenseantigo.blogspot.com.br/2014/08/fechamento-do-estadio-santa-izabel.html>. Acesso em: 01 set. 2017.

 

SARAIVA, Hugo. Inesquecível Estádio Santa Izabel. 2013. Disponível em: <http://futebolmaranhenseantigo.blogspot.com.br/2013/01/inesquecivel-estadio-santa-izabel-em.html>. Acesso em: 01 set. 2017.

 

VITORMAGAIVER – 2012. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=aE78TwIq0D>. Acesso em: 21 outubro  2018.

Pesquisador responsável: Yuri Alhadef

Fotografias/Imagens:

O Pelourinho de 1815 e a Pirâmide de Beckman

A localização de resquícios do Pelourinho de São Luís (1815) é uma descoberta recente. No ambiente encontrado existe a Pirâmide de Beckman (1910), erguida em homenagem a Manuel Beckman, líder da rebelião nativista que levou seu nome, a Revolta de Beckman (1684), acredita-se que foi neste local que Beckman foi enforcado.

Segundo Euges Lima (2017), o antigo Pelourinho de São Luís (1815) não foi totalmente destruído como se imaginou, pois seu pedestal continuou e foi reaproveitado, utilizado como alicerce da construção da chamada Pirâmide de Beckman. A base desse monumento “estaria apoiada sobre um pedestal do antigo pelourinho local, de 1815” (MOREIRA, 2014: 09), que foi transferida para a Praça 15 de Novembro (Praça Manoel Beckman), na Avenida Beira Mar. O historiador Euges Lima (2017) fundamenta-se em uma pesquisa bibliográfica e de campo referentes à Pirâmide de Beckman, da qual fez fotos, e com a obra O Cativeiro (1941), de Dunshee de Abranches, ajudou a confirmar esse achado, porque neste livro há um desenho de um Pelourinho, que esse pesquisador afirma ser o mesmo em que a sua base compõe a Pirâmide de Beckman (1910). Lima (2017) acredita que Abranches tenha desenhado ou descrito, com riqueza de detalhes e bastante fidedigno, apontando que o autor de O Cativeiro foi contemporâneo desse antigo Pelourinho, “que originalmente estava situado no antigo Largo do Carmo, hoje, Praça João Lisboa.

Nesse livro, ele conta suas memórias de como viveu na São Luís escravagista da segunda metade do século XIX”. Vale dizer que nessa Praça João Lisboa, no antigo Largo do Carmo, em frente à Igreja do Carmo, é “local de origem do antigo Pelourinho e que depois da destruição parcial, fora removido sua base para o Parque 15 de novembro, em 1910” (LIMA, 2017: 02). Sobre a Revolta dos Republicanos Radicais (1889) que destruíram o Pelourinho (1815), tem-se a figura de Paula Duarte, que foi um militante jornalista, redator do Jornal republicano “O Globo” em São Luís e ligado aos Clubes Republicanos, “conhecido pelo seu poder de persuasão e eloquência quando discursava em Praça Pública”. O acontecimento da destruição do Pelourinho foi liderado por Paula Duarte com o auxílio de populares e ex-escravos, “que a golpe de machadadas e de malhos no dia 1.º de novembro de 1889, portanto, catorze dias antes da Proclamação da República, destruíram esse monumento que era antes de tudo, um símbolo da opressão negra em São Luís” (LIMA, 2017: 03). Diante disso, percebe-se que essa descoberta é importante para a História do Maranhão, pois estudos recentes não apontavam a Pirâmide de Beckman construída utilizando como base o antigo Pelourinho de São Luís de 1815.

 

Fontes/Bibliografia:

ABRANCHES, Dunshee de. O Cativeiro. 3 Ed. São Luís: Edições AML, 2012. (Foto 01).

CONHEÇA CURIOSIDADES SOBRE ALGUNS DOS MONUMENTOS DE SÃO LUÍS. São Luís, 6 nov. 2015.

Disponível em: <https://oimparcial.com.br/noticias/cidades/2015/11/conheca-curiosidades-sobre-alguns-dos-monumentos-de-sao-luis/>. Acesso em: 25 ago. 2017. (Fotos 02 e 03).

LIMA, Euges. Entrevista inédita sobre a revelação da base do Pelourinho de São Luís. 2017. Disponível em: <http://ihgm1.blogspot.com.br/2017/04/entrevista-inedita-sobre-revelacao-da.html?m=1>. Acesso em: 24 ago. 2017

MOREIRA, ANGÉLICA. O enigma da Pirâmide. Revista de História, Rio de Janeiro, dez. 2014, p. 09.

Pesquisador responsável: Yuri Alhadef

Fotografias/Imagens:

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