Município Atual: São Luís – MA

O terreiro grande de Zé Negreiros alcunhado de Terreiro de Legua Bogi Búa da trindade, em homenagem ao seu santo de cabeça, foi aberto em 1945 no bairro do Turú, atual Posto Natureza, na época zona rural de São Luís. A casa seguia o Tambor de Mina, na linha Nagô, modelo adotado pela grande maioria das casas de Tambor de Mina, com cultos simultâneos a orixás, voduns e outras entidades, nobres, fidalgos e caboclos. Essa casa permanece viva na memória de muitas pessoas com mais de 60 anos, que frequentavam ou conheciam sua fama, que hora ou outra aparecia nos jornais na resolução de casos ou envolvendo políticos famosos. De acordo com as fotos encontradas nos jornais ficou perceptíveis detalhes da estrutura do barracão, mostrando parte da fachada, o que permite ver que era uma construção simples, feita de pau a pique. Esta foi a primeira estrutura, segundo depoimento do filho Itabajara Coelho, e teria pegado fogo pouco tempo depois de erguida. Com isso, houve a necessidade de uma construção mais resistente, feita em formato de campo de futebol. Contudo, a casa de segredo, onde os filhos de santo eram preparados, se manteve com as mesmas características de construção, era feita de palha.

Embora esse pai de santo tenha construído outras casas no centro da cidade, essa foi a de maior representatividade no âmbito social. No começo era isolado do centro e o único meio de transporte que lhe dava acesso era o carro de boi. Com isso, segundo relatos orais, por ser frequentado por pessoas da alta sociedade, incluindo políticos, foi necessário abrir o caminho para a passagem de automóveis, o que originou a Avenida São Luís Rei de França, atualmente, uma das principais da capital maranhense. Coelho (2017) argumenta “Negreiros era amigo de poderosos, José Sarney era próximo de papai, ele que mandou abrir a estrada do Turu para poder ir ao terreiro.” O Terreiro de Zé Negreiros/ Legua Boji Búa da Trinade, promovia além das festas dos santos, apresentações de grupos folclóricos como bumbas, reisados, Divino Espírito Santo, Tambor de Crioula e frequentemente fazia sorteios de prêmios, entrega de presente para as crianças, dentre outras atrações, além das festas com muita comida, atraindo com isso pessoas das imediações e de outros bairros. Essa Casa buscava mecanismos de inserir a comunidade nas festividades. Uma das formas utilizadas por esse Pai de santo foi através das “Vozes”, programa de rádio que era instalado em alguns bairros de São Luís. Ele possuía a voz intitulada “Bom Jesus dos Navegantes”. Através desta, interagia com o público ouvinte e como forma de incentivar a participação fazia sorteios de muitas coisas como ingressos para os jogos de futebol, cestas, dentre outros prêmios. Alguns desses eram doados pela própria rádio, enquanto outros eram comprados por ele mesmo.

Coelho (2017) aponta que, “até o time do Vasco da Gama, quando veio jogar na cidade, foi no terreiro de Negreiros, para conhecê-lo, já que na época diziam que quem não o conhecesse não conhecia São Luís”. Na verdade, ele tinha uma relação de paixão com futebol, seu terreiro do Turu era um exemplo disso, como já mencionado, possuía formato de campo de futebol, com espaço no centro para as apresentações e as arquibancadas para os convidados. Além do respeito dos times locais, Coelho (2017) destaca que “as camisas dos jogadores do Moto dormiam no terreiro com meu pai, dois dias antes das grandes partidas, além dele benzer os jogadores.” Tamanha era a crença no poder do mesmo. Essa casa foi responsável pela preparação de muitos filhos de santo que, posteriormente, constituíram seus terreiros, principalmente em Belém. Além do mais, era muito conhecido em outros lugares, o pai de santo Negreiros chegou a viajar para Guiana Francesa e Espanha, para trabalhos. “O sistema todo frequentava a casa, para a festa acontecer tinha que ter licença, mas papai era amigo dos delegados, cansei de ir buscar licença na casa deles.” (COELHO, 2017)

Fonte/Bibliografia

COELHO, José Itabajara. 2017. Entrevista concedidas a Reinilda Santos.

SANTOS, Reinilda de Oliveira. José Negreiros: “pulava e brincava, rufava o pandeiro”. In: Boletim da Comissão Maranhense de Folclore. Número 56, junho de 2014, p. 14-15.

SILVA, Vagner Gonçalves da (org.). Caminhos da Alma. Memória afro-brasileira. São Paulo: Summus, 2002.

Pesquisador responsável: Reinilda Oliveira

Fotografia/ imagem:  Acervo: Museu afrodigital do Maranhão